quinta-feira, 30 de abril de 2009

Última canção





Como esquecer a noite crivada de estrelas, cravada fundo no destempero? Se o céu se abria adiante, abrigando o alcance do olhar, todas as penhas e o cenário de adornos.
Por uma mínima trilha de Minas, entre capins e capelas, era possível erguer não a voz, não o tronco, mas a espera. Que avançava, alerta, pelas curvas de cada pausa. Que sabia, pelas margens, aonde ainda não se chegava. Embora o hálito de músculos tesos, embora o tato sem controle, embora súbito vagas de dissolução.
(Alguns ruídos de insetos, carrapichos na barra da calça, latidos ao longe.) Vertigem de fumos no ar enregelado ou tentativas de ardor desfeitas por uma lógica em precipício não desvendarão, seque sujarão, as miúdas cifras interpostas entre o quase entrelaçamento.
Aqui mais vasto podia ser o pasmo, mais vasto podia ser o avesso. Sem cismas, assim como sem resignações. Rente ao chão, sentindo no corpo a terra úmida de sereno.

Júlio Castañon Guimarães

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